26.8.08

Estrangeirismo


Há uma semana finalizamos um trabalho sobre Estrangeirismo, requisitado pela nossa orientadora de Linguística.
Inicialmente achei que ia virar baderna, assumo.
"Caramba, tem assuntos bem mais complexos e indispensáveis implorando atenção!" pensei comigo.
Mas confesso que após o o desenvolvimento da pesquisa, diversas vezes me vi em contradição.
Em termos gerais, o termo Estrangeirismo compreende-se pelo empréstimo de palavras, expressões e construções gramaticais provenientes de outras línguas, que não a nativa do país em questão.
Esse recurso linguístico é visivelmente influente em nossa sociedade, visto que imperceptivelmente fazemos uso constante do mesmo (profissionais de tradução então, nem se fala!). Basta ler um artigo, conversar com algum colega de trabalho, assistir a televisão, ouvir uma locução na rádio ou simplesmente sair de casa e olhar ao redor para depararmos com exemplos de estrangeirismos.
São várias as adoções de termos estrangeiros realizadas pela nossa língua. Dentre as várias - do Italiano: pizza, do Francês: mousse, menu, do Alemão: chopp, do Árabe: bazar, do Hebraico: amém, do Inglês: feed back, e-mail, download -.
Existe, contudo, estrangeirismos pouco conhecidos pela população, um exemplo característico é o estrangeirismo sintático, que trata-se de construções provenientes de línguas estrangeiras. A antecipação de um adjetivo a um substantivo, por exemplo, é influência inglesa: "Bonito rapaz" em vez de "Rapaz bonito".
É de se esperar que diferentes estudiosos da gramática ou mesmo indivíduos observadores da língua tenham opiniões contrárias quanto aos benefícios ou prejuízos gerados pela utilização de tal recurso. Alguns o enxergam como uma opção enriquecedora e benéfica à comunicação entre os membros de uma sociedade, para outros, recorrer ao estrangeirismo como medida de compensação pela falta de equivalência de termos em Português é indevido e pode acarretar inúmeros prejuízos tanto à sociedade em geral, quanto à língua materna.
De um lado os defensores. Eles alegam que o empréstimo linguístico revigora e enriquece a língua, supre as necessidades que surgem com a globalização, pois o seu uso correto e adequado deixa o texto ainda mais claro e objetivo. Termos ou expressões ainda inexistentes na língua nativa podem ser adequados à necessidade de utilização, expandindo o vocabulário e facilitando a comunicação entre os falantes de um idioma.
Do outro lado há os que criticam a interferência do estrangeirismo em nossa língua e cultura. Segundo estes, o uso exagerado do empréstimo provoca a desvalorização da Língua Portuguesa, símbolo do patrimônio histórico Brasileiro. A comunidade, ressaltam os críticos, inúmeras vezes, faz uso de estrangeirismos sem necessidade, e essa influência desmedida tende a provocar desvalorização da Língua Portuguesa.

Esse termo "patrimônio histórico" me traz lembranças um tanto quanto ... perturbadoras. Só uma pausa pra eu contar!
Neste segundo Bi eu estava frequentando um grupo de discussões sobre tópicos de abrangência nacional... Brasil como tema central.
Uma das discussões foi a respeito de patrimônio cultural, uns textos bem viajados mas até que frutíferos.
Discussão vai discussão vem, um professor de história solta uma bem assim:
  - Galera, NA REAL! É muito complicado falar sobre. Pra iniciar a reflexão, imaginem as consequências da destruição do muro das Lamentações para os Judeus. Vocês são capazes de imaginar os 'efeitos colaterais' de tal acontecimento? ... pois bem, agora imaginem um atentado terrorista contra o Planalto Central. O que vocês me dizem?
... Ninguém se conteve, o riso foi geral.
Engraçado - se não fosse TRÁGICO!

Pois bem, voltando ao que interessa, há quase dez anos, o deputado Aldo Rebelo (PC do B -SP) criou uma lei que tentaria reduzir o estrangeirismo na mídia, abrangendo os meios de comunicação, a publicidade, embalagens de produtos e outros tipos de expressão. O projeto de lei foi aprovado mas não chegou a ser sancionado, e uma das principais indagações quanto à discussão permaneceu: de que maneira, em perspectiva nacional, haveria a fiscalização e como ocorreria a punição daqueles que se mantivessem recorrentes ao estrangeirismo? COMO fiscalizar o vocabulário de cada indivíduo em suas diversas tarefas rotineiras?
É fato: o estrangeirismo é um recurso linguístico importante da Língua Portuguesa, sua utilização, quando empregada de maneira correta e consciente, tende a enriquecer o vocabulário, expandir nossas variedades expressivas e a tornar mais clara e profunda a troca de idéias entre membros da sociedade. Todavia, não são desprezíveis as questões levantadas pelos indivíduos contrários à tal recurso.
A língua portuguesa abrange um vocabulário rico, preciso e, em diversas circunstâncias não se justifica o emprego de estrangeirismos, principalmente em estabelecimentos comerciais, como: "Welcome", "x% OFF", "SALE". Temos equivalentes perfeitos na língua portuguesa, contudo, nada mais justo que recorrermos ao nosso próprio léxico.
Em outras circunstâncias, talvez por veiculação da própria mídia, não nos sentimos confortáveis em traduzir a palavra emprestada por sua equivalente portuguesa, como no caso de "site" (sítio, em Portugal), "internet", "mouse", "outdoor".
Seria estranho ouvir alguém dizer: "preciso trocar o rato do meu computador, está muito velho!". Nesses casos, não há como negar que o empréstimo facilitaria a comunicação.
Em suma, o estrangeirismo situa-se num universo complexo denominado Língua Portuguesa, onde a contradição concretiza-se ora definindo-o como um recurso importante da gramática, ora caracterizando-o como ameaça ao nosso idioma nativo.
Creio que a necessidade quanto ao uso deste recurso é inegável, porém, cedo e admito(mesmo que com culpa no cartório): deveríamos buscar ponderar sua utilização, evitando recorrências desnecessárias e abusos que suprimem nossas palavras, "filhas legítimas" da Língua Portuguesa - principal propulsora de identificação entre cidadãos.

2 comentários:

Bruna disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Leo Lucas disse...

Acho que colocar o adjetivo antes do substantivo é também apropriado ao português, assim como em outras línguas latinas, embora o efeito e mesmo o significado mudem um pouco.