9.7.10

On translation

"O tradutor, antes mesmo de sê-lo, é leitor. E como todo leitor, negligente ou rigoroso, seu primeiro movimento é de se entregar ao que lhe falam. De considerar o que lhe contam. De tomar pé, certamente, das palavras que lhe são servidas, mas logo se evade e constroi uma representação da experiência que lhe é produzida. Experiência a partir da qual ele supõe, sem mesmo dar-se conta, que o próprio autor foi embora. Ele incialmente presta menos atenção no que lhe é dito do que no que o entretém.
Seria inútil, seria estúpido alguém reprová-lo por isso. Mas seria uma espécie de cegueira não reconhecê-lo. E não perceber que toda sua prática, com muita frequência, deriva desse modo de leitura. Pois não é de praxe que, uma vez construída essa representação, o tradutor se volte e considere a sequência de vocábulos que a permitiu. E sua tarefa então lhe parece clara: essa representação, é necessário dizê-la. E dizê-la, pensa ele, "como se diria", ou seja, naturalmente, espontaneamente, direto e sem contorções. Porque o tradutor tem, como todos, o sentimento profundo e mal definível de que existe para qualquer representação uma maneira de dizer espontânea, natural, direta e nua, que ele conhece e que lhe pertence, da qual não pode se afastar".

CHEVALIER, "Traduction, littéralité et chaîne de causalités", 1995.

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