6.1.10

Copenhagen 2009

   Antes, bem antes de Copenhagen falhar, nós, ao depositamos insatisfações a quem julgamos ter poder de mudar o mundo, falhamos.
   É caracteristicamente humano aconchegarmos na ilusão de que as transformações almejadas pela sociedade devem partir do externo, do alheio. A maior fonte de frustrações, sejam elas particulares ou de caráter global, partem desse tipo de suposição.
   A irresponsabilidade ambiental a aloprar a sociedade contemporânea não parte exclusivamente de representantes governamentais ou de grandes corporativas, mas de cada indivíduo a compreender cada sociedade.
   Nunca se esqueça, caro leitor, de que tanto a alocação insustentável de recursos naturais quanto o cúmulo nas emissões de CO2 existem primordialmente porque há um mercado consumidor disposto a absorver os produtos e mercadorias gerados a partir de práticas de produção insustentáveis.
   Os efeitos colaterais provindos do desmazelo ambiental não devem ser depositados apenas sobre os ombros de grandes indústrias e corporações, a típica família brasileira de classe alta com mais carros na garagem que habitantes dentro de casa também deve ser responsabilizada; assim como a sociedade de exagero norte-americana, a promover por meio de massivas estratégias manipulatórias a gula - caracterizada especialmente pelo cultura do SuperSize, a busca por reconhecimento social - delineada pela fútil necessidade de acompanhar tendências, o estímulo ao consumo incessante de novos e novos produtos - quando os já adquiridos poderiam ser facilmente reparados e readaptados ao uso.
  Não nos esqueçamos de nossos irmãos asiátivos que, excitados por perspectivas de crescimento econômico, submetem gerações futuras a incertezas até mesmo com relação à sobrevivência.
   Somos parte de um todo que exije, que demanda, que suga e se esbalda, porém, quando alertados a respeito dos riscos e colapsos potenciais, nos limitamos a depositar a responsabilidade e a criação de soluções a terceiros. É aí que reside o erro.
   Obama falhou, Lula falhou, Sarkozi, Gordon Brown, Wen Jiabao, todos falharam, mas a motivação do fracasso dos principais líderes mundiais parte de seus respectivos compatriotas que, ao invés de agirem sustentavelmente, depositam expectativas vagas a la panaceia a terceiros.
   Certamente todas as manifestações de reprovação à tendência inerte do COP15 são louváveis. Ativistas de diversas partes do mundo se organizaram a fim de demandar medidas ao menos experimentais da COP15, todavia, a essência da polêmica jaz na conscientização da necessidade de Atitude por parte de cada indivíduo enquanto habitante de um planeta em vias de colapso.
   Tão fácil quanto manifestar é adotar a reciclagem como costume diário, assim como buscar formas alternativas de transporte, ao menos em cidades onde é possível optar por bicicletas, por transporte público, ou mesmo utilizar-se dos pés e do tecido adiposo como locomotores. Chega a ser escandalizador observar, especialmente em metrópoles, a quantidades de carros com apenas uma pessoa dentro.
  Tão possível quanto promover manifestações e passeatas é fazer valer as funções dos métodos contraceptivos, é colaborar ativa e individualmente, ao invés de depositar, em mãos parciais, a responsabilidade pela salvação do planeta.
   Por que consumir exageradamente mais que o necessário? Por que desperdiçar tanto? Por que trocar de carro todo ano? Por que tanta ostentação? Mais adiante ainda, por que consumir além do necessário produtos que só contribuem para a manutenção do ciclo vicioso da produção em massa?
   São mudanças relativamente simples a solução de um problema de natureza tão séria. Não se trata de demagogia, um princípio básico da economia contribui para a compreensão: sem tamanha demanda não existiria tamanha oferta; sem tamanha oferta, as metas de redução na emissão de gases nocivos seriam atingidas sem a necessidade de Protocolos de Kyoto ou de reuniões de âmbito mundial com desfechos frustrantes.
   Mesmo que freássemos a emissão de gases nocivos, ainda que sancionássemos medidas radicais contra o desmatamento ou a poluição de reservas naturais, sem conscientização, sem respeito e educação individualmente aplicados, o planeta continuaria seguindo rumo à decadência.

Yes we can visit mars. Yes we can develop atomic weapons. Yes we can build skyscrapers as much as we want. Yes we can find cure. Yes we can elect any president we want.
Só não podemos cavar mais devagar nossa própria sepultura.