30.11.09

Insustentáveis contradições


Pisamos na lua mas não superamos medíocres preconceitos.
Produzimos ficções inter-espaciais futuristas mas não conseguimos transformar a realidade de nossos famintos contemporâneos.
Defendemos a produção em massa, mas não a distribuição em massa.
Damos voltas ao planeta mas ignoramos as necessidades de vizinhos de muro.
Armazenamos gigas em milímetros e ainda assim guerreamos por espaço físico.
Descobrimos curas biológicas mas permanecemos com as piores doenças espirituais.
Cruzamos continentes em minutos, todavia vivemos cercados de grades, arames, câmeras, muros e concreto.
Descartamos toneladas de alimento diariamente enquando milhares de adultos e crianças morrem às mínguas por desnutrição.
Construimos ilhas marítimas a la palmeiras, mas não oferecemos condições sanitárias básicas a 40 % da população mundial.
Desenvolvemos forças atômicas mas não conseguimos conter nosso livre arbítrio.

18.10.09

por enquanto.


I've been down and I'm wondering why
These little black clouds keep walking around with me, with me
Waste time and I'd rather be high
Think I'll walk me outside and buy a rainbow smile but be free, they're all free
So maybe tomorrow I'll find my way home
So maybe tomorrow I'll find my way home

1.8.09

sem mais nem menos


   Quando comecei a estudar linguística não imaginei o quanto teria as perspectivas transformadas. É meio sinistro, as vezes imagino estar estudando psicologia.
   Imagino que poucos conseguem absorver a essência da Linguística pura, tanto que 98% dos alunos a contemplam como uma merda fodedora. O que desprezam é a beleza das descobertas individuais veiculadas pelo seu estudo.
   Fria e vagamente (sem qualquer indício de desprezo aqui) eu diria que estudar linguística é entender, observar e colocar em palavras o que a nós é intuitivo, considerando-se o fenômeno "comunicação". Mestres da oratória ou mesmo pegadores bom de lábia nada mais fazem que aplicar a linguística a suas estratégias de comunicação.
   Ethos, pathos, logos, Aristóteles foi um linguista vanguardista. O conceito de ethos é a maior prova do que digo.
   Todo discurso pressupõe a construção da imagem daqueles que estão envolvidos no processo interativo.     Há a imagem que o enunciador faz de si mesmo, a imagem que o enunciador faz de seu interlocutor e vice-versa. (obviamente há diversas outras interferências concernentes à construção de um discurso, mas a inteção aqui não é dar aula)
   Diariamente aplicamos fundamentos dessa instância, no entanto, por ser um fato humanamente inato, passa-se despercebido. Não colocamos em palavras ou estudamos minuciosamente tal ocorrência.
   Este raciocínio abre portas para inúmeras outras associações, e uma delas frequentemente martela a minha cabeça.
   Você já parou pra pensar que só somos capazes de estabelecer suposições, sejam elas quais forem, caso já tenhamos experienciado reações particulares em concordância com tais suposições?
   Ainda tenho leves dúvidas relativas à generalidade dessa afirmação, mas acredito que ela se aplica a uma abrangente gama de situações.
   Se as pessoas tivessem a mínima noção disso, se envergonhariam de diversas especulações que ousam exteriorizar durante toda a vida.
   Alguma vez li algo sobre isso em algum lugar e achei curioso. Não lembro o tipo de texto, se era científico ou não, só me recordo de ler algo do tipo: o ser humano não consegue supor, especular situações ou probabilidades que não reflitam o mínimo de sua própria essência e experiência.
   Há uma historinha bem difundida na internet que reflete muito bem o que falo. Há quem afirme ser este um teste aplicado a detentos como uma das avaliações na constatação de psicopatia.
   É o seguinte:
Uma menina se apaixona loucamente por um cara que conheceu no velório de sua mãe. A paixão é daquelas latentes e explosivas, porém, ela o perde de vista.
Uma semana depois essa menina assassina a irmã.
POR QUÊ?

Pessoas normais especulariam: Pq ela viu a irmã "pegando" o cara e foi tomada por uma cólera mortal, que "apagou as lamparinas de sua razão".

... Pensaste assim?

Segundo rumores, a resposta de um psicopata seria a seguinte:

Ela matou a irmã afim de atrair o rapaz ao velório e se encontrar novamente com ele.

   Interpretando, pessoas normais não cogitariam a possibilidade de uma atitude tão calculista porque particularmente não experienciam nenhum tipo de impulso, sentimento, seja lá como categorizam isso, capaz de levá-las a reagir de tal forma, sendo assim, em seus 'quadros de probabilidades' não existe essa hipótese.
   Segundo a lógica, psicopatas são capazes de supor essa possibilidade pois particularmente experienciam emoções ou impulsos que já os levaram a ao menos imaginar tal situação.

   Quantas vezes julgamos gestos, atitudes, palavras, ou mesmo o caráter de terceiros, sem imaginar que, se somos capazes de presumir em relação a eles, é pq somos capazes, de alguma forma, de praticar exatamente o mesmo.

  Não é uma grande descoberta, aliás, não acredito ser uma descoberta. Trata-se de algo que, intuitivamente, todo mundo sabe. Só não é um raciocínio conveniente a se difundir.

   A verdade é que somos todos lobos.
   Minhas modestas associações só me conduzem a acreditar que, definitivamente, nossas atitudes, ao menos enquanto humanos, são todas com fins de "auto-preservação", o resto é balela.
   Altruismo, misericórdia, compaixão e amor, mesmo que dedicados a terceiros, nada mais são que fontes alternativas a visar satisfação pessoal.
   O que felizmente existe é a coincidência de interesses: A sua felicidade ME alegra, o teu conforte ME conforta, ou, a sua tristeza ME deprime, a sua fome ME abate.
   A discussão é bem complexa, um tanto quanto anti-social, mas eu te afirmo, amigo, não tem como escapar. A reação inicial quase sempre é de negar e contestar energicamente, mas, apesar de doloroso, é uma verdade humana.

   Hoje, estou cansada. Cansada da realidade, tão real que me entristece. O egoismo sempre vence, é inevitável.
   Cansada de me deparar com o fato de que sinto medo, de que tenho pontos fracos e que frequentemente tento escondê-los.

... cansada, principalmente, da simples coincidência de interesses.

30.5.09

Enfim 23!



Here I am to worship,
Here I am to bow down,
Here I am to say that You're my God
You're altogether lovely
Altogether worthy,
Altogether wonderful to me

Your beauty has already made this heart adore You.


Feliz, feliz, feliz!

18.5.09

Deixe-me traduzir.

   Toda profissão tem seus encantos e desencantos, prazeres e desprazeres, gostos e desgostos, em suma, it all comes with the territory, e os estereótipos são pródigos quando o assunto é marginalizar umas e superestimar outras.
   Por que estigmatizar, por exemplo, um músico? Por quê o cara obrigatoriamente tem que ser um vagabundo fanfarrão? Enquanto ele tá estourando os dedos naquele contra-baixo rígido ou rasgando a garganta pra caracterizar ao máximo a voz de McCartney em um cover de "Helter skelter" vc está com a sua turma tomando umas e flertando a loira gostosa da mesa ao lado.

   Aos apressados de plantão, tenho consciência de que generalizações nem sempre vêm ao caso. O que eu quero dizer é que existe sim uma tendência social a estigmatizar certas profissões e a vangloriar outras.
   Apesar da minha indignação ter caráter geral, vou me deter a opinar ao que diz respeito à minha profissão em potencial.
   Isso não deveria mais acontecer, mas até hoje ainda me surpreendo com tamanha ingenuidade e ingratidão difundidas na sociedade ao que diz respeito à arte de traduzir e de interpretar. Na verdade, meu descontentamento tem origem lá atrás, com os primeiros estudos de tradução.
   Começa com o jogo de palavras surrado de (des)caracterização da tradução que diz que "Traduzir é trair" (do trocadilho italiano 'traduttori-traditori'), passa pela asserção de que o tradutor é um plagiário que pratica a única forma legítima de plágio, chega à comparação arrogante de que a tradução é como as mulheres: quando fiéis, não são bonitas; e quando bonitas, não são fiéis, e atinge seu estopim com a discussão acerca da possibilidade ou não de tradução poética.
   Admito que meu dom não está pra ser gasto com poesias, mas daí a assumir que a discrepância entre o original e a tradução é forte o suficiente pra desqualificar a poesia é assumir acentuada ignorância acerca da arte poética.
   Desde quando a arte literária é linear? Mesmo um texto em português não vai, de forma alguma, provocar efeitos de sentido iguais a interlocutores mesmo que falantes da mesma língua.
Por quê exigir isso de uma tradução? A graça está exatamente nessas diversas possibilidades de repercussão e impacto emocional.
   Um certo Heine disse uma vez que traduzir poesia era empalhar os raios do sol. Como resposta, pergunto o mesmo que Renato Poggiolo: por acaso fazer poesia não é o mesmo?

   Diversas vezes amigos me pedem para "interpretar" músicas ao vivo, ali, na hora. A música está tocando e eles: Vai, o que tá falando?.. Tento 'transpor' a música e eles me olham com cara de "Tem certeza que é isso mesmo?"... minha vontade é de pedir que me expliquem o que Zé Ramalho quis dizer com "quanto ao pano dos confetes, já passou meu carnaval, e isso explica porque o sexo é assunto popular".
   Não, nem a tradução muito menos a interpretação funcionam assim.
  A necessidade de tempo para coleta de dados e conhecimento prévio do assunto (especialmente tratando-se de tradução técnica) são imprescindíveis tanto a iniciantes quanto a profissionais calejados.
Quer um exemplo? ... peça à sua professora de inglês formada pela USP com mestrado na Oxford University e doutorado na Harvard pra verter "Mandacaru quando fulora na seca, é um sinal que a chuva chega no sertão".
   Posso garantir que ela vai engasgar e te pedir ao menos uns minutinhos.
  Esse um ano e meio estudando tradução me fez acordar para as inúmeras armadilhas frequentemente presentes onde menos se espera.
   As fontes de erros são inúmeras, isso por que as palavras não existem isoladamente, mas dentro de contextos, e o sentido depende dos demais elementos que compõem tal contexto. Vide as inúmeras construções possíveis com a palavra, hum, vamos ver...
MÃO: mão amiga, mão de vaca, contra-mão, dar uma mão, à mão livre, mão de obra, à mão, à mão armada, palma da mão, de mão cheia, mão aberta, mão de ferro, dar a última mão, passar a mão (roubar), etc.
   Vai tentar verter tudo isso pra outra língua!
   Há de se mencionar também as assombrosas expressões idiomáticas, essas sim dão dor de cabeça.
Kick the bucket, o famoso paradigma de alerta, não é bem chutar o balde (to give the hell), mas morrer, bater as botas, abotoar o paletó de madeira, esticar a canela, ir desta pra melhor.
Que tal "fazer das tripas coração", ou "dar uma cantada em alguém" ? Traduz para a sistemática sociedade chinesa o nosso "Jeitinho brasileiro".
E o "aos trancos e barrancos"? E quanto a "engolir sapo" e "ter sangue de barata" ?
Que tal "queimar o filme", "vir a calhar", "levar um tombo", "dar uma palinha", "passar a perna", ser uma "mala sem alça"?
E o nosso "jogo de cintura"?
E pra "fechar com chave de ouro", como é possível "falar pelos cotovelos"?
Que nada, vamos parar de "encher o saco" e "voltar às vacas frias".

   Tradução é muito mais que equivalência de palavras, está ligado a equivalência de sentido, de culturas, de hábitos, de humor, de ironia, de alusões. A dimensão e a profundidade são outras, e não é qualquer garotão bom de inglês que passou 15 dias na Disney que vai respeitar tal sensibilidade.
   São frequentes tais comentários dirigidos a ex-estudantes de intercâmbios: "Você não sabe inglês? Então, por que não vira tradutor? ... Deve ser bem fácil e dá um bom dinheirinho!", e, após viver quebrando a cabeça pra traduzir trocadilhos, analogias, metáforas e peculiaridades tipo a fala do Cebolinha em "Você telia colagem de bater em mim, Mônica?", sinto vontade de dar algumas explicações a esses desavisados muy amigos.
   Aliás, sinto vontade de desafiá-los a traduzir um provérbio básico tipo "birds of a feather flock together" ou "a rolling stone gathers no moss", a verter um trocadilho bem popular como "quem não arrisca não petisca" e a manter a essência do substantivo "Zé mané" em uma outra língua estrangeira.
   Para completar, seria legal intimar nosso buddy muito sabidão a transpor a alusão à serpente bíblica para os esquimós, que nunca viram uma cobra.
   Como traduzir a palavra inverno, que na mente de um carioca em nada se assemelha ao sentido provocado pelo seu equivalente em russo no espírito de um habitante de Leningrado?
   Há também de se convir que pobre nos Estados Unidos designa (ou designava!!!) uma pessoa que tem automóvel e recebe, a título de welfare, indenização equivalente ao salário de um professor universitário em certos estados da América do sul.
   Rio de janeiro significa uma coisa para o carioca que nela vive e trabalha, outra para o paulista que vai lá passar as suas férias, outra para o europeu que condensa nesse nome o seu sonho exótico.

   Uma língua é muito mais abrangente do que se imagina, e, apesar das frequentes apologias à aparente simplicidade do inglês (quando comparado a uma língua de complexa conjugação verbal como o português, por exemplo) fortifico minha idéia de que quanto mais se conhece o inglês, mais disposição há em admitir que essa língua é indiscutivelmente surpreendente e desafiadora.

   Nunca imaginei que, depois de quase 9 anos estudando inglês eu me depararia indo verificar o significado de spring no dicionário. Para minha surpresa, percebi que, naquele contexto, spring deveria ser traduzido como "origem", e não como primavera, como vem instantaneamente à cabeça. Outra vez me senti envergonhada tendo que ir verificar region no dicionário, dessa vez observei que região não era, nem de longe, a tradução adequada àquele contexto, mas sim "território" (apesar de territory existir).
   Dias atrás percebi que o adjetivo eggheaded, ao contrário do que se imagina (ao menos eu não gostaria de ser uma "cabeça de ovo") quer dizer intelectual.
   Percebi também que husbandry não tem nada a ver nem com husband nem com laundry, mas com agricultura e criação de gado.
   Outra vez quase pequei quando quis traduzir instintivamente "The toppling of Sadam Hussein" por "O auge de Sadam Hussein", quando, na verdade, toppling é exatamente o contrário do que se imagina - queda, derrocada.

   Pois é, há tempos ensaio vir aqui desabafar minhas indignações, e, agora, depois do descarrego, já me sinto mais aliviada.
   Não vou nem começar a falar sobre Interpretação, porque aí vão acabar me estereotipando as a insurgent.
    Pra finalizar, vai um texto genial que me rendeu bons argumentos.




OUR CRAZY LANGUAGE


If pro and con are opposites, is congress the opposite of progress?

English is the most widely used language in the history of our planet. One in every seven human beings can speak it. More than half of the world's books and three quarters of international mail are in English. Of all languages, English has the largest vocabulary - perhaps as many as two million words - and one of the noblest bodies of literature.
Nonetheless, let's face it: English is a crazy language. There is no egg in eggplant, neither pine nor apple in pineapple and no ham in a hamburguer.
English muffins weren't invented in England or French fries in France. Sweetmeats are candy, while sweetbreads which aren't sweet, are meat.
We take English for granted. But when we explore its paradoxes, we find that quicksand can work slowly, boxing rings are square, public bathrooms have no baths and a guinea pig is neither a pig nor from Guinea.
And why is it that a writer writes, but fingers don't fing, grocers don't groce, humdingers don't hum and hammers don't ham? If the plural of tooth is teeth, shouldn't the plural of booth be beeth? One goose, two geese - so one moose, two meese? One index, two indices - one Kleenex, two kleenices?
Sometimes I wonder if all English speakers should be commited to an asylum for the verbally insane. In what other language do people drive on a parkway and park in a driveway? Recite at a play and play at a recital? Ship by truck and send cargo by ship? Have noses that run and feet that smell?
You have to marvel at the unique lunacy of a language in which your house can burn up as it burns down, in which you fill in a form by filling it out and in which your alarm clock goes off by going on.
English was invented by people, not computers, and it reflects the creativity of the human race (which, of course, isn't really a race at all). That is why, when stars are out they are visible, but when the lights are out they are invisible. And why, when I wind up my watch I start it, but when I wind up this essay I end it.

   Pra finalizar, pede pro seu amigo, aquele que passou 15 dias na Disney e manja pra cara***, traduzir esse texto para o português.

7.5.09

When it rains, it pours


I can feel the night beginning.
Separate me from the living.
Understanding me,
After all I've seen.
Piecing every thought together,
Find the words to make me better.
If I only knew how to pull myself apart.

All that I'm living for,
All that I'm dying for,
All that I can't ignore alone at night.
All that I'm wanted for,
Although I wanted more.
Lock the last open door, my ghosts are gaining on me.

I believe that dreams are sacred.
Take my darkest fears and play them
Like a lullaby,
Like a reason why,
Like a play of my obsessions,
Make me understand the lesson,
So I'll find myself,
So I won't be lost again.

All that I'm living for,
All that I'm dying for,
All that I can't ignore alone at night.
All that I'm wanted for,
Although I wanted more.
Lock the last open door,
my ghosts are gaining on me.

22.4.09

Pensando e linguajando

Às vezes me surgem indagações filosóficas, viciosas e intensas. Quando elas surgem - isso pode acontecer ao tropeçar em uma pedra ou ao quebrar a cabeça tentando entender as estranhezas da vida - tento categorizá-las, esmiuçá-las e solucioná-las. Às vezes consigo entender tendo por base o tão difundido senso comum, outras vezes não consigo entender nem com a explicação da enciclopédia multi-informacional-greco-romana-otomana-hispana-inglesa indispensável ao pack de qualquer grande mochileiro das galáxias.
Tais questionamentos sempre me indignaram e na maioria das vezes me vi empacada na mesma situação viciosa de quando questionamos quem veio primeiro, o ovo ou a galinha.
Indo ao que interessa, o assunto é: Linguagem e pensamento. Qual termo pressupõe qual? Qual vem primeiro? São indissociáveis? É possível pensar sem ter como base a linguagem?
Um cara que dissertou sobre isso com categoria e clareza foi um linguista chamado José Luiz Fiorin, em uma obra chamada "Linguagem e ideologia".
A leitura desta é intensa mas clara e lógica. Não afirmo que encontrei a simples e pura resposta sobre o tema, mas seus argumentos são aprimorantes.
Para mim, a resposta não é única e depende de vários aspectos, entre eles a definição e o entendimento dos termos "pensamento" e "linguagem", assimilados pelos indivíduos, cada qual em seu contexto, tempo e situação social.

A quem interessar, aí vai uma pincelada sobre o assunto.


Uma formação ideológica deve ser entendida como a visão de mundo de uma determinada classe social, isto é, um conjunto de representaçõs, de ideias que revelam a compreensão que uma dada classe tem do mundo. Como não existem ideias fora dos quadros da linguagem, entendida no seu sentido amplo de instrumento de comunicação verbal ou não-verbal, essa visão de mundo não existe desvinculada da linguagem. Por isso, a cada formação ideológica corresponde uma formação discursiva, que é um conjunto de temas e de figuras que materializa uma dada visão de mundo. Essa formação discursiva é ensinada a cada um dos membros de uma sociedade ao longo do processo de aprendizagem linguistica. É com essa formação discursiva assimilada que o homem constrói seus discursos e reage linguisticamente aos acontecimentos.

As visões de mundo não se desvinculam da linguagem, porque a ideologia vista como algo imanente à realidade é indissociável da linguagem. As ideias e, por conseguinte, os discursos, são expressõe da vida real. A realidade exprime-se pelos discursos.
Dizer que não há ideias fora dos quadros da linguagem implica afirmar que não há pensamento sem linguagem. Engels dizia que não há realmente um pensamento puro desvinculado da linguagem. Ao opor-se à ideia de Duhring de que quem não era capaz de pensar sem o auxílio da linguagem não tinha conhecido o verdadeiro pensamento, afirma, com ironia, que, se isso fosse verdade, os animais seriam os pensadores mais abstratos e autênticos, porque seu pensamento jamais é perturbado pela interferência da linguagem.
Alguns linguistas e psicólogos julgam que existe um pensamento puro pré-linguistico, e, ao lado dele, a expressão linguística que lhe serve de envólucro. Outros afirmam que é impossível pensar fora dos quadros da linguagem.
O problema começa com o próprio conceito de pensamento. Se imaginarmos que pensamento seja a "faculdade de se orientar no mundo", ou o "reflexo subjetivo da realidade objetiva", ou ainda, "a faculdade de resolver problemas", então podemos concluir que há um pensamento verbal e um pré-verbal, pois todos os animais fundam seu comportamento numa certa orientação no mundo, num certo reflexo subjetivo da realidade objetiva ou numa certa capacidade de solucionar problemas. Mas se dissermos que o que caracteriza o pensamento humano é seu caráter conceptual, o pensamento não existe fora da linguagem.
Há processos mentais que escapam ao nível puramente linguístico, mas, a partir de uma certa idade, o pensamento torna-se predominantemente conceptual e este não existe sem uma linguagem. O cérebro funciona de maneira muito complexa, mas os estudos de psicologia genética e das patologias linguísticas demonstram que a ausência de uma linguagem, qualquer que ela seja, impossibilita o exercício do pensamento conceptual. Quando se diz que não há ideias independentemente da linguagem, esta-se falando de pensamento conceptual.
Não há, porém, identidade entre linguagem e pensamento. O que há é uma indissociabilidade de ambos, que não se apresentam jamais de uma forma pura. Por isso, as funções da linguagem e do pensamento não pode ser dissociadas e, muito menos, opostas. O pensamento e a linguagem, diz Schaff, sao dois aspectos de um único processo: o do conhecimento do mundo, da reflexão sobre esse conhecimento e da comunicação de seus resultados. Para Vygotsky, apesar de o pensamento e a linguagem serem diferentes em sua origem, ao longo do processo evolutivo, soldam-se num todo indissociável de forma que, no estágio do pensamento verbal, torna-se impossível dissociar as ideias da linguagem. Pensamento e linguagem são distintos, mas inseparáveis.
Por causa dessa indissociabilidade, pode-se afirmar que o discurso materializa as representações ideológicas. As ideias, as representações nao existem fora dos quadros linguísticos. Por conseguinte, as formações ideológicas só ganham existência nas formações discursivas.

11.4.09

O "coreto" é estratégico!


This is my baby, the friend of my dreams, my supporter, my safeguard, my relief. It makes me wanna cry when I remember the long hours, the several months and the whole year when I was all by myself, going on with that nonsense life and you were there, some thousand miles away but still providing me the hope I needed.
I've lost track of how many times along that year you made me believe I could be happy again, that existance was not that bad and that god hadn't forsaken me.
Thanks for opening my eyes for so many different perspectives, for drying my tears when despair was taking over me, for making me feel special and worthful.
Thanks for presenting me so many beautiful places, thrilling movies, touching songs and great bands. Thanks for telling me so many exciting stories, for persuading me to be strong and courageous. Thanks for the reliance, for the right words at the exact moments, for the elation, for the enthusiasm, for the thirst for knowledge you brought to me. Thanks for supporting and respecting my decisions and for abiding my weaknesses.
I've already told you the 'witnesses' tale. We all need others to be witnesses of who we are, what we do and how we live. I can only tell you it's my pleasure to be witness of who you are and to have your testimony of how I've been doing.
I care for you and I love you.

You were there when no one else was.

29.3.09

yes, I'm a bloody damn fucking fan!


It must have been the blinding lights you lit in my world
It must have been the little while in which you transformed me
It must have been the vertigo you led me to
It must have been the mistery that surrounds you
It must have been the beautiful days you brought me
It must have been your ideology that met mine
It must have been your tone of voice
It must have been the greatness of your melody
It must have been the shiver of your guitar
It must have been the passion for music you inspired me
It must have been the reminiscence you brought me
It must have been the words spoken by your souls


... I am still enchanted by the light you brought to me.

25.3.09

vômitos de uma noite decepcionante.

Século XX

Revolução espacial
Revolução biológica
Revolução literária
Revolução anatômica
Revolução comercial
Revolução informática
Revolução comunicativa
Revolução locomotiva



Século XXI

juventude morta
Juventude acomodada
juventude podre
juventude alienada
juventude massacrada
juventude escravizada
juventude frenética
juventude retardada

Esses são, ao menos em número significante, os jovens contemporâneos da primeira década do superestimado século XXI.
Em tempo de caos geográfico, histeria ambiental, desmoralização social e mendigância de solidariedade, nós, jovenzinhas de plástico e jovenzinhos de mastro permanentemente ereto nos embalamos no créu do desgosto, na chupada de uva podre, na sentada de merda, em complacência com a pizzaria de injustiça, subestimando a inteligência e a beleza da consciência prosseguida de Atitude.
Se seu ego foi provocado, jovem leitor, pergunte a seu pai sobre a influência e organização do movimento estudantil em seus anos de academia, pergunte a seus avós sobre a energia da força sindical trabalhista em meados do século XX. Pergunte a eles também sobre a criatividade e criticismo da contra-cultura de seus contemporâneos. Ouça um sertanejo de raiz e compare ao sertanejo de ração que toca hoje na sua orelha suja.
Ou yeah baby, vamos celebrar a condicionalidade de relacionamentos, os amores descartáveis, as amizades displicentes, os afetos perniciosos e a pobreza das paixões... vamos celebrar até à inconsciência, já que esperar por atitudes alheias, ignorar a passividade perante o que incomoda e assegurar o arroz com feijão diário é mais fácil que enfrentar a pressão da contra-inércia.
Condicionalidade é a palavra que melhor caracteriza essa década. Amores condicionais, afetos condicionais, solidariedade condicional, sorriso condicional, AJUDA condicional, justiça condicional, ordem condicional, interesse condicional, HUMANOS condicionais.
Nunca o acesso ao conhecimento esteve tão disponível a qualquer nauseabundo com olhos e ouvidos; nunca a informação esteve mais acessível, nunca a comunicação foi mais abrangente que agora, porém, o legal mesmo é curtir noites de orgia pra mascarar o vazio, a auto-exposição em prol da popularidade barata, a sensualidade porca. Legal mesmo, 'cachorra', é ter um buraco entre as pernas e duas melancias no tórax.
... E raciocínio que nada! .. coordenação motora nos quadris vale muito mais. Sem esquecer de priorizar a quantidade, porque qualidade e cuidado é assunto pra vigilância sanitária.

Às almas nobres e raras, desculpem a apressada generalização e pelo, talvez, simplismo, mas hoje isso é tudo o que se passa pela minha cabeça e sufoca o meu espírito.

Por Maria Teresa em 19/02/09

27.1.09

O inquebrantável relativismo.

No tempo da cavalaria andante, dois cavaleiros armados de ponto em branco, tendo vindo de partes opostas, encontraram-se numa encruzilhada em cujo vértice se via erecta uma estátua da Vitória, a qual empunhava numa das mãos uma lança, enquanto a outra segurava um escudo. Como tivessem estacado, cada um de seu lado, exclamaram ao mesmo tempo:
- Que rico escudo de ouro!
- Que rico escudo de prata!
- Como de prata? Não vê que é de ouro?
- Como de ouro? Não vê que é de prata?
- O cavaleiro é cego
- O cavaleiro é que não tem olhos.
Palavra puxa palavra, ei-los que arremetem um contra o outro, em combate singular, até caírem gravemente feridos.
Nisto passa um dervis, que depois de os pensar com toda a caridade, inquire deles o motivo da contenda.
- É que o cavaleiros afirma que aquele escudo é de ouro.
- É que o cavaleiro afirma que aquele escudo é de prata.
- Pois, meus irmãos, observou o daroês, ambos tendes razão e nenhum a tendes. Todo esse sangue se teria poupado, se cada um de vós se tivesse dado ao incômodo de passar um momento ao lado oposto. De ora em diante nunca mais entreis em pendência sem haverdes considerado todas as faces da questão.

Apólogo dos dois escudos - José júlio da silva Ramos

4.1.09

Enjoy the silence

Sometimes I almost forget of how I care, love and intimately beg for Silence.
Silence brings me understanding, comprehension, peace, awareness and balance. Somehow I feel safe and unique.
Silence precedes imagination, pull strings to fantasies, it turns reality less palpable.
It may sound controversial but, at the same level I'm in love and needy for silence, I just can't be without a good song. It's been a huge while since I spent a day without listening to music for at least two hours.
Music (and now, be careful at what you consider to be music - this is a matter of good sense) widens dreams, leads basic ideas to discoveries, it motivates self-encounters, reflexions and INTELLIGENCE.
All in all, Silence and Music makes me fly, it allows me to live in the world in which I'm sympathetic for.

Enjoy the silence - Despeche mode